Uma área de 150 mil metros quadrados projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer para um campus universitário em Ribeirão Preto (SP) há mais de 40 anos aguarda a conclusão das obras pensadas pelo carioca, que morreu na última quarta-feira (5) aos 104 anos. Desenhado a aquarela e caneta de bico de pena na década de 1970, enquanto Niemeyer estava em Paris, o memorial descritivo do Centro Universitário Moura Lacerda, na zona Norte da cidade, ainda é referência para as futuras obras da instituição de ensino.
Dos itens imaginados por Niemeyer, ainda falta ser construída a praça central que concentraria biblioteca, restaurante, auditório para formaturas e o novo prédio de administração do campus. Até hoje, apenas as salas de aula foram concretizadas e estão em funcionamento. O novo prédio da administração deve ser erguido a partir de janeiro. “Construímos aos poucos à medida que a gente tem recursos”, afirmou o reitor, que mesmo depois de tantos anos ainda considera o projeto atual.
Uma concepção arquitetônica que, segundo o professor de arquitetura e urbanismo do Centro Universitário Moura Lacerda, José Antonio Lanchoti, mostra a preocupação de Niemeyer em promover o diálogo por meio da organização do espaço. “Ninguém melhor que ele poderia fazer de modo tão positivo, tão dinâmico o projeto, em que se percebe a relação de conhecimento entre estudante e docente”, disse o acadêmico, que teve a oportunidade de conhecer o arquiteto em uma visita ao Rio de Janeiro em 2003.
Segundo ele, o carioca ainda se lembrava dos manuscritos produzidos na França e tinha curiosidade sobre o andamento das obras no interior do estado de São Paulo – embora tenha tido acesso a estudos topográficos, Niemeyer nunca esteve no campus que imaginou. “Foi instantânea a fala dele. Quando ele bateu o olho perguntou se tinha sido construído.”
Amizade
O reitor Moura Lacerda também guarda lembranças das vezes que visitou Niemeyer na cidade do Rio de Janeiro e que ajudaram a estabelecer uma amizade entre eles. De acordo com o ribeirão-pretano, a última vez que o viu foi há sete anos. “Fui ao Rio para alguns compromissos e aproveitei para cumprimentá-lo. A gente criou um grande vínculo de amizade. Afinal, íamos todo mês lá para discutir detalhes do projeto durante sua implantação”, disse Lacerda.
Segundo ele, a ideia de convidar Niemeyer para desenhar o campus em Ribeirão partiu do pai, o fundador da faculdade em Ribeirão, que na época já o admirava e decidiu enviar-lhe uma carta. “Daí começou o relacionamento com o doutor Oscar. Foi muito bom o contato com ele, ele era muito alegre, de uma humildade espantosa”, afirmou Moura Lacerda.
Morte de Niemeyer
O arquiteto Oscar Niemeyer, de 104 anos, morreu às 21h55 de ontem quarta-feira (5) no Hospital Samaritano, no bairro de Botafogo, na zona Sul do Rio de Janeiro,onde estava internado desde 2 de novembro. Reconhecido internacionalmente por suas obras, Niemeyer completaria 105 anos em 15 de dezembro.
Segundo o hospital, Niemeyer respirava com a ajuda de aparelhos e encontrava-se sedado por causa de uma infecção respiratória. O hospital informou também que a piora do quadro clínico do paciente aconteceu após a visita do médico Fernando Gjorup nesta quarta-feira.
Fonte: G1