Justiça autoriza transexual de Ribeirão Preto a trocar nome antes de mudança de sexo

Mesmo após assumir a homossexualidade e passar a se vestir como mulher, Marcela – que nasceu homem – sofria por não ter a identidade feminina respeitada, principalmente quando era obrigada a apresentar o RG. Em janeiro desse ano, a estudante universitária deu o primeiro passo para alcançar o sonho de se tornar mulher: obteve na Justiça o direito de ter gênero e nome alterados nos documentos pessoais, antes mesmo de realizar a cirurgia de mudança de sexo.

“Meus pais eram muito religiosos e na minha casa a questão sexual era rígida. Eu tentava me comportar da maneira como minha família queria, mas era difícil. Eu sempre me sentia mulher, mas olhava no espelho e enxergava outra pessoa. Ficava pensando, até quando essa angústia vai continuar? Agora, me sinto um pouco mais leve. Posso ser respeitada pelo que sou”, disse Marcela.

Nascida em Ribeirão Preto (SP), a estudante – hoje com 31 anos – deixou a casa dos pais há três para cursar Ciência da Computação em  na cidade de Franca (SP). Foi nessa época que começaram as primeiras transformações em sua vida. Marcela deixou o cabelo e as unhas crescerem e começou a tomar hormônios femininos. “Foi uma mudança lenta e natural. Um passo de cada vez, mas com segurança.”

Preconceito
A transexual contou que, apesar das precauções, passou por momentos difíceis e várias vezes foi ridicularizada em público. Marcela afirmou, por exemplo, que sempre era aprovada nas entrevistas de emprego, mas depois dispensada quando apresentava os documentos pessoais.





“Uma vez, o entrevistador gritou o meu nome alto só para me ver constrangida. Não havia necessidade daquilo, eu estava sentada na frente dele. Isso também já aconteceu em atendimento médico. Tem coisas que a gente tem que enfrentar”, relembrou a estudante, que há uma semana trabalha como atendente em uma pizzaria.

Apesar das dificuldades, Marcela disse que nunca desistiu de enfrentar o preconceito. Há dois anos, ela procurou uma equipe médica no Rio de Janeiro (RJ) para fazer tratamentos que pudessem tornar seus traços ainda mais femininos. No mesmo corpo clínico, encontrou especialistas que a incentivaram a fazer os exames para realizar a cirurgia de mudança de sexo.

“Foram os próprios médicos que me incentivaram a trocar o nome nos documentos. Eles acham importante que essa alteração seja feita antes mesmo da operação porque, no entendimento deles, o fato de eu ainda ter órgão sexual masculino não interfere na definição de gênero”, explica.

Defensoria
O defensor público Antonio Machado Neto, responsável pelo caso de Marcela, também considera a decisão da Justiça importante para que os transexuais brasileiros consigam ser reconhecidos pelo gênero feminino, independente de terem realizado a mudança de sexo.

“As características são femininas, a psique é feminina, socialmente elas são vistas como mulher. O juiz decidiu com base no respeito à dignidade da pessoa humana, onde todos são iguais e devem ser tratados da mesma forma.”

Fonte: G1





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