Salas de atendimento médico que deveriam ser usadas apenas por pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) são utilizadas no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (SP) para atender pacientes particulares. A denúncia é de um funcionário da unidade de saúde, que alega que o favorecimento de pessoas que podem pagar pelos procedimentos implica no aumento da fila de espera por cirurgias feitas pela rede pública de saúde .
O Ministério Público instaurou um inquérito para apurar a denúncia. De acordo com o funcionário, que prefere não se identificar, para atender a demanda dos pacientes particulares, as cirurgias agendadas pelo SUS são desmarcadas e reagendadas. Segundo ele, das 17 salas de procedimentos cirúrgicos, apenas uma é destinada a intervenções pagas.
O hospital nega as acusações e diz que não há nenhuma espécie de favorecimento.
Cirurgias
O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo é o segundo maior do interior do estado de São Paulo e atende por dia uma média de três mil pessoas de várias cidades do país.
Em junho de 2011, os médicos assistentes do HC entraram em greve reivindicando uma equiparação salarial com colegas de outros hospitais estaduais. A paralisação durou sete meses e gerou um acúmulo de três mil cirurgias eletivas.
À época, o superintendente do hospital Marcos Felipe de Sá, chegou a afirmar que a fila de espera seria reduzida até o primeiro semestre de 2012, mas segundo o diretor do Sindicato Regional dos Médicos (Simesp), Ulysses Strogoff de Matos, a situação não mudou. “O problema da fila não foi resolvido no hospital e não há perspectiva disso”, afirma Matos.
Para o funcionário que fez a denúncia contra o HC, a fila é agravada por causa da quantidade de cirurgias particulares realizadas pelos médicos do hospital. “No dia em que teoricamente eles teriam que estar fazendo o SUS, eles acabam fazendo o particular primeiro. Se der tempo faz o SUS e se não der tempo no final do dia suspende e marca para outro dia”, declara.
Salas
A reportagem teve acesso à escala do uso das 17 salas de cirurgia do HC. Nos documentos constam que a sala 12 é reservada para pacientes particulares, mas nos dias em que o número de procedimentos pagos aumenta são usadas salas destinadas a pacientes do SUS.
“Sabemos de dias que eles (médicos) teriam que estar operando no SUS em uma sala específica, mas eles fazem o particular primeiro e acabam suspendendo algumas cirurgias do SUS por causa disso”, diz o denunciante.
De acordo com o funcionário, quem pode pagar é favorecido em detrimento dos pacientes da rede pública. “Se você tiver dinheiro você marca a consulta particular e não entra na fila em que os pacientes ficam um ou dois anos esperando”, afirma.
O diretor do Simesp reforça a denúncia de favorecimento. “Existem dois HCs. O HC para o atendimento particular, que funciona muito bem, e o para o paciente do SUS, onde se encontram muitas filas e uma espera de anos”, diz Matos.
HC
Em nota, o HC de Ribeirão Preto informou que não há nenhum tipo de priorização para cirurgias particulares ou de convênios e que existe apenas uma sala para atendimento de pacientes particulares e convênios, que não concorre com as outras 16 salas que realizam atendimento pelo SUS.
O HC informou ainda que as cirurgias particulares e de convênios são marcadas somente nesta sala e que o sistema de agendamento eletrônico não permite que procedimentos particulares e de convênios sejam marcados em outras salas.
Sobre a fila de espera dos pacientes do SUS, o hospital informou que o número de cirurgias realizadas na unidade teve um aumento significativo para o segundo semestre de 2012, e que desde o mês de julho deste ano, nenhuma cirurgia foi desmarcada por falta de anestesistas.
Fonte: G1